Merge Labs: Sam Altman e OpenAI entram na disputa com a Neuralink
Nos últimos dias, ganharam força os rumores de que Sam Altman prepara a Merge Labs, com apoio do braço de investimentos da OpenAI, para desenvolver interfaces cérebro‑computador (BCI). A movimentação expande a rivalidade com Elon Musk e pressiona o mercado de neurotecnologia, que já vinha em aquecimento por causa de avanços clínicos recentes.
O que é a Merge Labs e qual é a tese
A Merge Labs nasce com foco em BCI de alta largura de banda, mirando aplicações médicas primeiro — como comunicação e controle de dispositivos por pessoas com paralisia — e, depois, usos mais amplos. As conversas de mercado indicam uma rodada de US$ 250 milhões a uma avaliação próxima de US$ 850 milhões. A leitura aqui é direta: capital para acelerar P&D, ensaios clínicos e parcerias com centros hospitalares.
A expectativa é que a empresa combine avanços em hardware neural com modelos de IA para decodificar sinais cerebrais com mais precisão e menos latência. Isso inclui desde novos formatos de eletrodos e cirurgias menos invasivas até pipelines de dados que alimentem modelos capazes de transformar intenção motora em comandos digitais.
Onde está a Neuralink hoje
Enquanto a Merge Labs se estrutura, a Neuralink sustenta a dianteira do noticiário. A empresa de Musk:
- avançou em ensaios clínicos com pacientes com paralisia, mostrando controle de cursor por pensamento;
- obteve permissões para estudos no Reino Unido e segue expandindo sua base de pesquisa;
- captou recentemente algo entre US$ 600–650 milhões, com avaliação próxima de US$ 9 bilhões.
Em termos de produto, a proposta é um implante intracortical com centenas de canais, inserido por um robô cirúrgico, e uma stack de software para decodificação neural. O objetivo inicial é restaurar funções — comunicação e mobilidade — e, no longo prazo, explorar aplicações de consumo.
Quem mais está no jogo
O ecossistema de BCI vai muito além de dois nomes. Entre os principais concorrentes e referências técnicas:
- Synchron: abordagem endovascular via Stentrode, que navega pelos vasos sanguíneos até o córtex, reduzindo a necessidade de craniotomia. Já apresentou resultados positivos em estudos de viabilidade e conduz ensaios sob autorização regulatória.
- Precision Neuroscience: interface subdural de película ultrafina (Layer 7), com milhares de eletrodos na superfície do córtex para minimizar dano tecidual, mirando fala e intenção motora.
- Paradromics: foco em altíssima taxa de dados com implantes penetrantes, de olho em speech decoding e comunicação.
- Blackrock Neurotech: referência histórica do Utah Array, plataforma que pavimentou décadas de pesquisa em BCI e aplicações clínicas experimentais.
Esse mosaico técnico importa porque cada abordagem faz trade‑offs entre resolução de sinal, invasividade cirúrgica, estabilidade a longo prazo e custo. É nesse equilíbrio que a Merge Labs deverá se posicionar.
Por que agora
Três vetores explicam o timing:
- Maturidade clínica: mais dados humanos, mais datasets para treinar modelos e validar protocolos cirúrgicos.
- Queda de barreiras técnicas: eletrônica de baixo ruído, materiais biocompatíveis e software de decodificação orientado por IA.
- Capital e talento: rodadas maiores, spin‑outs de laboratórios e migração de especialistas de big tech para neuro.
Sinais para acompanhar
Para separar hype de realidade, vale monitorar:
- design do implante: número de canais, densidade, durabilidade e biocompatibilidade;
- via cirúrgica: intracortical, subdural ou endovascular — e o perfil de risco de cada uma;
- métrica clínica: velocidade, acurácia e estabilidade do decoder em tarefas do mundo real (texto, cursor, dispositivos);
- pipeline regulatório: marcos de estudos (EFS, pivotal), autorizações e critérios de inclusão de pacientes;
- estratégia de dados: privacidade, consentimento, portabilidade e propriedade do dado neural;
- modelo de negócio: reembolso, preço do procedimento, aftercare e atualizações de software.
O que pode mudar no mercado
Se a Merge Labs confirmar capital e time, o setor tende a acelerar em:
- parcerias hospitalares para recrutamento e clinical ops;
- infra de dados neurais (captura, rotulagem, foundation models para fala e movimento);
- padrões de segurança e testes de cibersegurança em implantes conectados;
- novos casos de uso: de comunicação assistiva a reabilitação pós‑AVC e controle de wearables e cadeiras de rodas.
A competição direta com a Neuralink deve elevar o sarrafo técnico e encurtar prazos, mas também ampliar o escrutínio ético e regulatório.
Conclusão
A entrada de Sam Altman e da OpenAI com a Merge Labs adiciona músculo financeiro e atenção ao campo das interfaces cérebro‑computador. No curto prazo, os impactos mais prováveis estão em P&D e ensaios clínicos; no médio, em padrões de dados, segurança e reembolso. O jogo é de longo prazo, e a execução clínica vai separar promessas de resultados.